segunda-feira, 5 de março de 2007

80 - Metáforas/1

Binário: Caos - Ordem


"Então, no princípio era o Caos; depois a Terra de largos flancos,
base segura oferecida para sempre a todos os seres vivos,
e Eros, o mais belo dentre os deuses imortais,
aquele que subjuga no peito de todos os deuses e de todos os homens,
o coração e a sábia vontade."
Hesíodo, Teogonia
(Poeta grego do século IX ou VIII a.C)


A criação do Universo ainda é um mistério. Terá sempre existido? Possui começo e fim? Existe uma causa primordial e inteligente? Como criou o Universo? Ela é a causa primordial de todas as coisas? Pode o homem compreender a magnitude de seu Criador? Ou o Universo resulta apenas da interação espontânea entre os elementos primordiais? Surgiu do “nada”? Existe uma matéria primordial? Quais as suas propriedades elementares? O que existia antes da sua criação? É um processo cíclico? O homem poderá algum dia compreender ou descobrir a causa e a finalidade da criação? Por que o homem sempre se preocupou com a origem do Universo? Caos ou ordem predomina no Universo? Existe apenas um ou muitos Universos?

O que é a vida? Qual a finalidade da vida? É um fenômeno espontâneo ou resulta da vontade de um criador? Quando começou a existir vida no planeta? E a vida inteligente? Existe vida apenas no planeta Terra? Existem outras formas de vida inteligente no universo? A humanidade é apenas um fenômeno isolado? Que condições ambientais são necessárias à criação da vida? A espécie humana é o resultado da evolução das espécies ou de um ato de vontade do Criador? O que causa as diferenças físicas e morais da humanidade?

Diversas são as cosmogonias (do gr. kosmogonia - mitos que contam a criação do mundo) que tentam explicar a origem do Universo e da Vida. Algumas afirmam que a criação surgiu de um caos primordial. Outras de um “nada”. Duas correntes de pensamento desenvolvidas na Grécia antiga e em outras civilizações. No entendimento de alguns filósofos gregos, Caos é o estado primordial e primitivo da matéria. No início, apenas o Caos existia. Tudo era confuso, misturado, não-diferenciado e amorfo. Não havia luz. E da escuridão profunda (Érebo e Nix) surge a luz e as divindades abstratas.

A mitologia do Xintoísmo (religião nativa do Japão) que o Universo resultou do Caos – quando da separação de duas forças cósmicas (yo, o princípio ativo; in, o passivo - de ação recíproca). As forças geraram os cinco elementos (ar, água, madeira, metal e terra), que criaram as Dez Mil Coisas. O princípio ativo é denominado de Céu e o passivo Terra.

O momento da criação, ordenadora do caos, segundo a tradição judaico-critã:

“1. No princípio, Deus criou os céus e a terra. 2. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. 3. Deus disse: Faça-se a luz! E a luz foi feita. 4. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas.” (Gn 1,4)

Os índios Maori (Nova Zelândia) apresentam uma sugestiva mitologia sobre a criação do mundo:

Do nada a procriação,
Do nada o crescimento,
Do nada a abundância,
O poder de aumentar o sopro vital;
Ele organizou o espaço vazio,
E produziu a atmosfera acima,
A atmosfera que flutua sobre a Terra;
O grande firmamento organizou a madrugada,
E a Lua apareceu;
A atmosfera acima organizou o calor,
E o Sol apareceu;
Eles foram jogados para cima,
Para serem os olhos principais do Céu;
E então o firmamento transformou-se em luz,
A madrugada, o nascer do dia, o meio-dia.
O brilho do dia vindo dos céus.

Religiosos, filósofos e cientistas apresentam conjecturas sobre o momento inicial da criação e a existência do fenômeno vida. Universo e Vida, arcanos milenares que escondem os segredos do caos e da ordem. Desafiam a inteligência do homem e sugerem a existência de uma Inteligência Criadora. Eterna, infinita, imutável, imaterial, única.

Questionando as origens do Universo e da Vida, o homem percebe a fragilidade de sua existência. A eternidade é apenas um instante... no grande relógio das eras. E o infinito a idealização de algo que não pode ser vivenciado. Perplexo, o homem percebe a importância do binário: caos – ordem. Regente de toda estrutura conceitual e existencial.

Nota Explicativa:

1. O Caos, simbolicamente, representa um estado:

a) de não-diferenciação, amorfo e primordial que antecede uma criação;
b) de não-ordem, onde existem princípios, leis e regras em latência, em condição não manifesta.

2. Ordem é o estado de organização regido por princípios, leis, diretrizes, normas e convenção. Não é sinônimo de estabilidade ou estagnação.



1. Caos – Origem Histórica

No ocidente, o jogo é conhecido pelo nome de Go palavra de origem japonesa. No Japão é conhecido como Igo ou Ki. Wei Qi é a denominação utilizada na China, que possui a variação escrita Weiqi ou Weiki. Baduk ou Patuk na Coréia.

O jogo de Go tem origem incerta. É provável que tenha surgido na China há 4.000 ou 5.000 anos. Lendas e mitos fazem parte de sua tradição. Alguns estudiosos sugerem que sua origem está vinculada à astrologia chinesa. Os astrólogos utilizavam o tabuleiro e as peças (de madeira ou pedra) para estabelecer a posição dos astros, criando um rudimentar mapa celestial. Outros afirmam que o Go foi inicialmente uma versão primitiva de instrumento de cálculo, o ábaco.

O Go recebeu influência do Taoísmo, Budismo e Xintoísmo. Segundo alguns pesquisadores, o jogo surgiu como um instrumento religioso e utilizado como oráculo. As pedras brancas e pretas representavam o bem e o mal. Neste contexto, o Go seria uma representação do Universo e das forças positivas e negativas que nele atuam.

O jogo foi muito utilizado por militares para a representação do campo de batalha, das estratégias imaginadas, das táticas utilizadas em combate e da estrutura logística necessária à realização da guerra.

A prática do jogo se expandiu para outros países – Coréia e Japão. Há aproximadamente 1400 anos e Tibet (datação incerta).

Antigamente, na China, a partida era iniciada com algumas pedras sobre o tabuleiro. Antes do primeiro lance eram colocadas quatro pedras conhecidas como “pedras assentadas” ou “pedras colocadas”. O jogador de pedras brancas iniciava a partida, que eram extremamente agressivas.


2. Ordem – As Regras de Go

Elas regem o universo goístico.

  1. Go é jogado, por dois jogadores, sobre um tabuleiro matricial formado pela intersecção de linhas e colunas. O tabuleiro possui dimensão variável, em geral, definido por uma malha de 19 x 19 linhas (Goban, tabuleiro).
  2. Os lances são realizados de forma alternada. Tradicionalmente o jogador mais forte joga de brancas. O jogador de pretas, em geral, inicia a partida.
  3. Os lances são realizados colocando-se uma pedra sobre a intersecção das linhas.
    As pedras colocadas não podem ser movimentadas. A retirada da pedra (captura) ocorre de acordo com a regra nº 4.
  4. O objetivo do jogo é formar território. O jogador que cercar mais territórios ganha a partida. As pedras colocadas sobre o tabuleiro, que perderem a condição de vida – perda de liberdade – são capturadas e retiradas do tabuleiro.
  5. É proibido colocar pedra sobre um ponto do tabuleiro que não possua liberdade.
  6. Uma posição de jogo não pode ser repetida (regra especial denominada de Ko).
  7. O desnível técnico entre jogadores pode ser compensado. É facultado ao jogador mais forte oferecer partido (handicap), uma pedra por cada grau de força (desnível técnico) até o número máximo de nove pedras.

    Bibliografia:

    Aurélio, Marco. Meditações; tradução de Jaime Bruna– São Paulo: Editora Cultrix.

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    Gibran, Khalil Gibran. O Profeta; tradução de Mansour Challita. – Rio de Janeiro: EBAL, distribuição Record.

    Golgher, Isaías. O universo físico e humano de Albert Einsten. – Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1991.

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    Tulku;Tarthang. O caminho da Habilidade – Formas suaves para um trabalho bem-sucedido; tradução de Manoel Vidal; revisão técnica Instituto Nyingma do Brasil. - São Paulo: Editora Cultrix, 1995.

    Thakar, Vimala. Meditação – Uma Maneira de Viver; tradução de Nilda Augusto Pinto. – São Paulo: Editora Pensamento, 1999.

    Tzu; Sun. A arte da guerra; tradução do original chinês para o inglês por Samuel B. Griffith; tradução de Gilson César Cardoso de Souza, Klauss Brandini Gerhardt.- Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. - (coleção cultura)

    Tzu;Sun. A arte da guerra; adaptação e prefácio de James de James Cavell; tradução de José Sanz. - 30 ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 2002.