sábado, 31 de março de 2007

128 - Atenção plena


Pegue papel e caneta. Olhe o ambiente ao seu redor por uns três minutos. Feche os olhos. Tente recordar o que viu. Em seguida, anote no papel as suas recordações – objetos observados, cor, posicionamento, etc. Terminou? Agora compare as suas anotações com a realidade do ambiente.

Surpreso com a quantidade de objetos que você não percebeu? Erro no posicionamento dos objetos e na quantidade percebida? E as coisas que deixou de perceber? Muitas?

É um pequeno e excelente treino para a memória. Mas quero chamar sua atenção para outro fato. O embotamento dos sentidos para com as coisas (habituais ou não). Nós ficamos tão presos em nossas emoções ou tão habituados com a nossa rotina de vida, o ambiente, os eventos sociais e políticos, os pensamentos, etc – que deixamos de perceber as experiências sensoriais imediatas.

Nos jogos estratégicos: Go e Xadrez, o embotamento cobra um tributo muito caro. E uma das formas de enfraquecimento tático e estratégico é a perda da atenção (concentração no que está ocorrendo). No Xadrez, quando o jogador deixa de observar um lance óbvio ganhador ou perdedor (do próprio jogador ou do adversário) diz-se que houve uma “cegada”. Cegar durante a partida pode acarretar uma derrota imediata ou no mínimo a perda de uma oportunidade de ataque ou defesa. Cega o mestre. Cega o “capivara”.

Jogando uma partida de Go, o goísta tenta ficar concentrado durante toda a partida. Mas a atenção é instável. Não é possível manter o mesmo nível de atenção durante o jogo todo. O nível de atenção varia... e muito...

O que fazer para reduzir a perda da concentração?

Em geral, os grandes inimigos a serem vencidos são: o estado emocional e a condição física.

Devido as suas características estratégicas e táticas, o Go exige raciocínio e intuição. Uma mente confusa – e fica confusa quando estamos instáveis emocionalmente (devido aos sentimentos de rancor, raiva, medo, preocupação, dor, alegria intensa, etc) – não pode trabalhar harmonicamente equilibrando as exigências da razão e as sutilezas da intuição.

Assim, quando perceber agitação mental. Fique alerta. Procure identificar os motivos do desequilíbrio emocional. Se o desequilíbrio ocorre antes do início da partida. Uma boa providência é procurar obter estabilidade emocional antes de começar a jogar. Muitos são os métodos comuns e conhecidos por todos. Ouvir música, tomar um banho, fazer exercícios, meditar, ler um livro, etc.

Muito comum é perceber o desequilíbrio durante a partida. Ele surge inesperadamente após uma perda, um ataque do adversário, a visão (ou ilusão) da vitória, uma fuga espetacular do oponente, etc. O que fazer? Pare. Evite jogar por impulso. Deixe sua visão passear pelo tabuleiro. Tente não se identificar com o fato (a perda do grupo, a invasão vitoriosa, etc). Pois o embotamento decorre da identificação. E não pense que é fácil obter a não-identificação. Vai exigir muita disciplina e autocontrole. Mas a primeira atitude é não agir. Pare! Disperse as emoções ”passeando” pelo goban.

Após a partida a mente está agitada? Indicação clara de cansaço mental/físico. Evite jogar outra partida de imediato. Descanse pelo menos alguns minutos.

A condição física do corpo afeta o nível de concentração? Sim. E muito. As condições de saúde e condicionamento físico afetam a concentração. É um fato conhecido de todos os atletas. E conhecidas, também, as necessidades: de uma boa alimentação, de exercícios regulares e períodos de descanso para recompor as energias. Jogar uma partida de Go estafado é pouco produtivo. Por que então jogar? Assista a uma partida, converse com outros goístas... Procure recompor as energias.