segunda-feira, 16 de abril de 2007

Triste notícia...

Hoje, 16/04/2007, meu filho Pedro Sérgio Lima de Morais, 18 anos, estudante de Direito do UniCEUB, às 6:30 h, indo para a aula, foi atropelado sobre a faixa de pedestre da Av. Comercial Norte, Taguatinga Centro, Brasília/DF.

O autor desse ato insano e criminoso foi o Sr. Eninaldo Inácio de Souza, motorista da Vann de placa JGB-9942, DFTRANS Reg. 479/2003, da linha Vila São José/W3 Sul.

Você leitor amigo e de outro Estado da Federação, saiba que aqui na Capital Federal também enfrentamos o problema das Vann’s. Motoristas despreparados para o trabalho de condução coletiva colocam em risco, diariamente, a vida dos passageiros e pedestres com manobras de “fórmula 1”, alta velocidade, desrespeito a legislação, superlotação e outras mazelas. Tudo isso fruto das decisões políticas de parlamentares (eleitoreiros e populistas) que de olho nos votos liberaram o transporte de Vann.

O transporte em Vanns é um atentado à segurança da população. Diariamente são registrados acidentes e atropelamentos causados pelos motoristas dessas máquinas de matar. E elas são necessárias? Infelizmente, no atual contexto... sim! Pois o Metrô pseudo-inaugurado e em funcionamento precário não atende as necessidades de transporte da cidade. E as empresas de ônibus... cobram caríssimo pela passagem (R$ 3,00 – trajeto Brasília/Cidade Satélite). Cobram, recebem e a frota não é renovada, o serviço de péssima qualidade, os ônibus sujos e quebram com freqüência. E o que acho interessante e incrível... as mesmas empresas conseguem renovar as concessões... Se essas empresas reclamam das tarifas cobradas (e algumas ainda dizem que trabalham no vermelho) porque tanto empenho em renovar a concessão?

Você leitor está intrigado, não é? Como um Metrô não atende as necessidades de transporte da cidade? Pois é... O Metrô de Brasília funciona apenas de segunda à sexta-feira. Demora, às vezes até 10 minutos para chegar e partir. Faz parada de esperada em algumas estações (já cheguei a ficar 15 minutos esperando o trem partir). Quando chove funciona em baixa velocidade. E... pasme você leitor... a maior parte das estações não foram construídas e colocadas em operação! E você sabe o que o Governo do Distrito Federal, de vez em quando, levanta a bandeira da privatização... porque diz que o Metrô é deficitário! E como poderia dar lucro? Se poucas estações foram construídas, demora, o horário é reduzido, não funciona no sábado e nem no domingo... E ainda querem ter lucro? Agora... privatize... provavelmente a empresa ganhadora da concorrência será uma das atuais responsáveis pelo transporte coletivo.... aí... logo, logo... o Metrô, num passe de mágica, dará lucros...

Agradeço a equipe médica do Hospital de Base do DF (HDB) pelo rápido e competente atendimento médico. Reduzindo o risco de vida do meu filho. Sim... são servidores públicos, heróis, anônimos, vilipendiados pela opinião pública. O servidor público é incompetente, preguiçoso, etc – não é assim que a mídia e a sociedade nos trata? E por que não dizem a verdade? Quem causa o sucateamento da saúde, da educação, da segurança, etc? Por que não fazem uma auditoria nas terceirizações?

Esses servidores do HDB superando todas as deficiências materiais, conseguem dar ao público um atendimento, uma esperança e uma oportunidade de cura. Merecem elogios, respeito e gratidão.

Os melhores profissionais médicos e paramédicos trabalham no Hospital de Base do Distrito Federal. Mas não pense o leitor – tolerante e paciente com a minha indignação com o Sr. Eninaldo Inácio de Souza que atropelou meu filho – que tudo são flores.

Não pense o leitor que sou uma pessoa frágil, impressionável... Um homem de mais de cinqüenta anos, que começou a trabalhar com 14 anos e teve a oportunidade de prestar serviço militar numa tropa de infantaria... Não pode ser “mole”... Não pode, não tem o direito, nem é possível. Principalmente, quando tem família – esposa e filhos para sustentar num país tão desigual e devastado pela corrupção e a impunidade. Mas o leitor já foi a uma urgência de um hospital público? Essa Biafra brasileira, que continua a existir mesmo depois de criada a CPMF. O imposto mais imoral, licencioso, escandaloso, um atentado à cidadania, que esses vagabundos das segundas-feiras querem continuar a cobrar da população brasileira por um longo tempo. Imposto arrecadado ávidamente, bi-tributado, de fiscalização incerta e uso desconhecido (sabe-se apenas que boa parte não é aplicado na área da saúde).

Você já foi a uma urgência de um hospital público? Ah! Se não foi... deve ir... só assim vai saber um pouco da realidade brasileira. Vai saber realmente sobre o verdadeiro Brazil, o Brazil que não é divulgado nas novelas nem nos programas de domingo... Um Brazil duro, desumano, sofrido, pobre, miserável.

Não caro leitor, não pense que acho que sou melhor do que os outros. Não! Pelo contrário... a dor de meu próximo dói mais... porque é a dor da observação, da empatia, do observador-agente-objeto.

Assim, ao ver meu filho tremendo de frio – fato comum que ocorre com os acidentados, agradeci de coração a manta recebida (que um funcionário se empenhou em conseguir...). Um cobertor marrom, cheio de furos, puído, desbotado. Mas esse singelo cobertor agasalhou e aqueceu meu filho Pedro. Muitos pacientes nos hospitais brasileiros... não conseguem nem um lençol para cobrir a maca... Agradeço de coração... o ”marronzito notável” deu conta do recado. Mas será que alguma “autoridade brasileira” se dignaria a se cobrir com esse objeto tão disforme?

Você já ficou em pé... segurando um tubo de soro? Quanto tempo? Vinte, trinta minutos? Uma eternidade... não é mesmo? Assim agradeço de coração ter conseguido um suporte para pendurar o soro e outras medicações... Pois é um objeto meio em falta nos hospitais... Quando alguém libera um suporte... corra amigo... faça a sua corrida olímpica em busca desse troféu... Mas será que alguma “autoridade brasileira” se dignaria a correr atrás desse troféu?

Você já ficou em pé acompanhando um paciente em sua dor e desespero? É outra eternidade... os pés doem, ardem, incômodos mil... Agradeço a cadeira conseguida por uma funcionária do hospital. Cadeira bendita! Hoje, ela vai acolher o corpo da minha esposa... vai ser uma longa vigília. Você já passou uma noite numa cadeira, ao lado de uma maca? Será uma noite longa... não é mesmo? E quantos brasileiros não possuem cadeira nos hospitais da vida? Alguma “autoridade brasileira” sentaria nessa cadeira simples, sem estofamento, dura como uma pedra... tão diferente daquelas cadeiras que custam R$ 15.000,00... R$ 20.000,00, de couro, usadas por nossas “autoridades”? Será que alguma “autoridade brasileira” se dignaria a sentar nessa cadeira abençoada?

E você já... Não, não vou falar mais sobre a Biafra! Tenho que agradecer o empenho da equipe do hospital. Não vou falar das paredes mofadas, remendadas. Não vou falar das lâmpadas queimadas. Não vou falar sobre a superlotação, da falta de equipamentos, de materiais. Não vou falar sobre os pregos das paredes... a criatividade em ação... improvisando um suporte para soro e medicamentos. Não vou falar da mistura das patologias... você pode ter o azar de ficar ao lado de alguém com uma doença extremamente perigosa... e não saber... ou melhor saber quando os sintomas se manifestarem em você...

E o meu filho Pedro? Como ele está? Fora de perigo. As suspeitas de traumatismo craniano, hemorragia interna, membros quebrados. Todas foram descartadas... pelo menos por enquanto. Ele quebrou a mandíbula. Vai precisar fazer uma delicada cirurgia. Tem uma pequena lesão óssea na cabeça... mas o tempo vai curar. E, depois de 15 dias vai precisar fazer um exame de fundo de olho. Só assim, as hipóteses de um descolamento de retina ou hemorragia no globo ocular serão descartadas.

Assim, que os goístas brasileiros não se surpreendam se o blog Ergosfera do Go ficar um pouco inativo ou sem atualização. Eu estarei nos próximos dias “correndo atrás dos prejuízos” causados pelo Sr. Eninaldo Inácio de Souza.

Um abraço,
Bruno Sérgio Veras de Morais
Nick KGS: Magista.